Brazil is everywhere (ou seria em todo lugar?)

Se você acompanha alguns canais internacionais de notícias a respeito do mercado de segurança, já deve ter percebido que o Brasil entrou no radar de muita gente. Seja uma notícia do threat post  da Kaspersky sobre um caso de spear phishing envolvendo o uso de CPFs (que aliás foi noticiado primeiro pela mídia internacional), seja o OpenDNS entrevistando um cliente brazuca, de repente todo mundo está olhando pra terra do samba, suor e cerveja.

Para um cidadão mediano Europeu ou Norte-americano, o Brasil é um lugar distante do qual ele pouco sabe, ou talvez um destino turístico fantástico e barato, com lugares magníficos como as Cataratas do Iguaçú (por sinal, nunca visitada por muitos brasileiros que já foram à Disney).

Mas para empresários estrangeiros o Brasil entrou no radar já há algum tempo, por uma série de razões. Possivelmente a combinação de estabilidade econômica com o crescimento expressivo do mercado interno é a principal delas. Já imaginou fechar um contrato de 12 meses com uma operadora e levar de graça um iPhone fabricado na Zona Franca? Algumas dezenas de milhares de pessoas já sonharam com este dia (incluindo o próprio Steve Jobs). O que para nós é sonho de consumo é algo corriqueiro pra maioria dos consumidores do hemisfério norte.

A demanda de consumo reprimida no Brasil é brutal. Alguém decide abrir uma franquia do Starbucks e tcham: anos depois você ainda vê pessoas esperando em longas filas pra comprar café a preços exorbitantes, mesmo que seja o café que exportamos pra eles e importamos de volta. Pergunte a qualquer marqueteiro que trabalha com consumo de massa qual é o principal formador de opinião do mercado brasileiro e a resposta vem rápido: classe-média alta. O empregado quer comprar na mesma loja do patrão. E a classe-média alta no Brasil tem um fascínio imenso pelo que vem de fora, desde a época do império.

Veja o caso dos alfajores Havanna. Produtos de consumo em massa na Argentina, vendidos por lá a preços populares, por aqui viram produtos de luxo. A quantidade de pessoas que já tinha ouvido falar dos alfajores sem nunca ter ido à Argentina, pelo menos em São Paulo, era imensa. A loja abriu cobrando um valor estúpido de caro por cada um deles, e tinha uma fila de gente esperando a abertura quando a primeira loja foi inaugurada nos Jardins. Ou seja, generalizando grosseiramente, na cabeça do brasileiro mediano reina o seguinte:

  1. De fora é sempre melhor.
  2. Quem diz isso é quem foi ver.
  3. Quero ser igual a quem já foi (afinal, o alfajor é bom mesmo).

Pausa (meu argumento é controverso, mas leia até o final antes de me apedrejar, até porque o formulário de comentários está no final mesmo :-)

Eu passei quase um quarto dos últimos dez anos fora do Brasil por motivos profissionais, mas indo e vindo algumas vezes por ano. Há cerca de dois anos esse cenário se aprofundou, a medida que a FLIPSIDE começou a trabalhar uma expansão para o mercado internacional, pouco depois da sua fundação. Tenho uma opinião que é partilhada por muitos brasileiros em situação similar: o momento para o Brasil no mundo nunca foi tão bom, seja para os brasileiros tentando a sorte fora, seja para aqueles que decidem ficar dentro.

Mas hoje eu falo aqui, principalmente, não para os nossos clientes como de costume, e sim para outros colegas empreendedores que vêm trabalhando para expandir as opções de serviços, produtos, eventos e cursos no mercado brasileiro. Falo para deixar um alerta: sabemos como ninguém trabalhar no nosso próprio mercado, mas a competição por aqui é mínima em comparação a dos grandes mercados internacionais.

Nós últimos anos temos visto uma série de fusões entre grandes empresas brasileiras. São movimentos estratégicos para sedimentar a liderança nacional em diversos segmentos, de alimentos à telefonia, e adquirir musculatura para enfrentar os competidores estrangeiros que vêm com a carteira recheada de empréstimos a juros ridículos, que pra gente ainda são coisa de ficção. Esse movimento beneficia a todos: ganha o consumidor com mais opções, ganham as empresas com os avanços que a competição exige.

Porém, se você quer mesmo se preparar como empreendedor para o que virá, não espere o mercado competidor chegar por aqui e faça o contrário: aproveite o câmbio favorável e passe a atacar o mercado internacional. Você vai aprender muito neste processo, terá acesso a um mercado de profissionais muito mais completo e diversificado, além de acesso às mesmas tecnologias que o seu competidor tem.

Mas o mais importante nessa minha visão é o seguinte: o futuro não vai estar nessa importação desembestada de qualquer coisa que venha de fora, só porque vem de fora. O futuro são empresas brasileiras, competindo no mercado internacional, mas adicionando uma identidade própria a tudo que fazem. O mercado internacional não quer produtos ou serviços brasileiros que pareçam norte-americanos, e sim produtos com um diferencial (que por hora eles nem sabem ao certo qual é).

Mas quem vai sustentar mesmo esse diferencial será o consumidor brasileiro, que presenteará com sua fidelidade aqueles que colocaram o Brasil no circuito internacional, mas levaram consigo a nossa identidade. Isso não significa que você precisa colocar de maneira despropositada uma mulata no teu site, pois dessa forma você apenas ajuda a perpetuar imagens caricaturadas que já sobram por aí. Muitos dos valores que permeiam nossa forma de fazer negócio e atender clientes tem um potencial imenso em outros mercados, embora para nós tenham se tornado uma exigência óbvia invisível. E você só perceberá isso visitando esses mercados, entendendo como eles funcionam pra aí sim ganhar a confiança deles e introduzir idéias inovadoras, sem nunca se acanhar por ser brasileiro ou diferente.

O Brasil hoje é hype, mas só continuará sendo na medida que for mesmo o Brasil, e não uma cópia de mal gosto de qualquer outra coisa.